O falso
evangelho da autoestima é uma versão mais branda da teologia da prosperidade.
Enquanto este busca fartar o desejo por riqueza material, o evangelho terapêutico,
como David Powlison chama em seu artigo “O evangelho terapêutico”, busca
satisfazer o desejo por plenitude interior. O problema é que ele tenta fazer
isso sem reconhecer a realidade do pecado e usa Deus como um psicólogo divino
que existe para cumprir as suas necessidades e demandas.
Porém, o
evangelho verdadeiro faz uma verdadeira inversão de valores. Powlison sugere as
seguintes cinco inversões:
1.
“Demanda por amor”? Certamente é algo bom saber que você é tanto conhecido
quanto amado. O Deus que sonda os pensamentos e as intenções dos nossos
corações também coloca o seu amor fiel sobre nós. Entretanto tudo isso é radicalmente
diferente do instinto impulsivo de ser aceito por quem eu sou. O amor de Cristo
vem precisamente e pessoalmente apesar de quem eu sou. Você é aceito por quem
Cristo é, pelo que ele fez, faz e fará. Deus verdadeiramente o aceita, e se
Deus é por você, quem será contra você? Mas ao fazer isso, ele não afirma nem
endossa o que você é. Pelo contrário, ele determina a sua transformação em
outro tipo de pessoa fundamentalmente diferente. No verdadeiro evangelho, você
se sente profundamente reconhecido e amado, no entanto a sua insistente
“demanda por amor” foi derrubada.
2.
“Demanda for relevância”? Certamente é uma boa coisa que as obras das suas mãos
durem para sempre, como ouro, prata e pedras preciosas, e não como madeira,
feno e palha. É bom quando aquilo que você faz com a sua vida tenha realmente
importância, e quando as suas obras seguem para a eternidade. Vaidade,
futilidade e insignificância apontam para a maldição que existe sobre nossa
vida profissional – inclusive na meia-idade, não só ao aposentar ou morrer, ou
no Dia do Julgamento. Entretanto, o verdadeiro evangelho inverte a ordem das
coisas pressupostas pelo evangelho terapêutico. A ânsia por impacto e
relevância – uma das típicas “paixões da juventude” que fervilha dentro de nós
– é meramente idolatria quando isso opera como Diretor de Operações do coração
humano. Deus não preenche a sua demanda por relevância; ele preenche a sua
necessidade por misericórdia e libertação da sua obsessão por relevância
pessoal. Quando você se volta da sua escravidão para Deus, então as suas obras
começam a serem contadas como boas. O evangelho de Jesus e os frutos da fé não
são desenhados para “satisfazer as suas vontades”. Ele liberta da tirania das
demandas, refazendo você a temer a Deus e guardar os seus mandamentos
(Eclesiastes 12.13). Dentro da divina ironia da graça, ela por si só torna de valor
eterno aquilo que você faz com a sua vida.
3.
“Demanda por autoestima, autoconfiança, e autoafirmação”? Adquirir um senso de
confiança em sua identidade é um grande bem. A carta aos Efésios está cheia de
várias dúzias de “declarações de identidade”, pois nelas o Espírito nos motiva
à uma vida corajosa de fé e amor. Você é de Deus – dentre os santos, eleitos,
filhos adotivos, filhos amados, cidadãos, escravos, soldados; parte de suas
feituras, esposa e habitação – cada um desses em Cristo. Nenhum aspecto da sua
identidade é autoreferencial, alimentando a sua “autoestima”. A sua opinião
sobre si mesmo é muito menos importante do que a opinião de Deus sobre você, e
uma autoavaliação precisa é derivada da avaliação de Deus. Uma verdadeira
identidade tem Deus como referência. Uma verdadeira percepção sobre quem você é
o aponta para uma alta estima a respeito de Cristo. Uma maior confiança em
Cristo corresponde a um voto de plena ausência de confiança em e sobre si
mesmo. Deus nunca substitui a timidez e bajulação por autoafirmação. Na
verdade, afirmar as suas opiniões e demandas, tal qual são, fazem de você
apenas um tolo. Ao se libertar da tirania de opiniões e desejos, você estará
livre para avaliá-las precisamente e, então, expressá-las apropriadamente.
4. “Demanda
por prazer”? De fato, o verdadeiro evangelho promete a experiência de infinita
alegria, bebendo do seus rios de delícias (Salmo 36). Isso descreve a presença
de Deus. Porém, como temos visto em cada caso, isso é chave para a reversão dos
nossos impulsos instintivos, e não para a nossa satisfação. O caminho para a
alegria é o caminho do sofrimento, perseverança, obediência nas mínimas coisas,
disposição a se identificar com a miséria humana, disposição a descartar os
seus persuasivos instintos e desejos. Eu não preciso ser entretido. Mas eu
absolutamente PRECISO aprender a cultuar com todo o meu coração.
5. “Demanda por empolgação e aventura”? Participar do reino de
Cristo é fazer parte da Maior História de Ação e Aventura Já Contada. Porém o
paradoxo da redenção volta a virar o mundo de cabeça para baixo. A aventura
real assume o caminho da fraqueza, luta, sofrimento, paciência e gentileza bem
executadas nas mínimas oportunidades. A estrada para excelência em sabedoria
não é nada glamorosa. Outras pessoas talvez tirem melhores férias e tenham um
casamento mais emocionante do que o seu. O caminho de Jesus na verdade recebe
mais pedras do que excitação. O seu reino talvez não guie os seus impulsos a
buscar novos desafios e altas emoções, mas a uma “sólida alegria e duráveis
tesouros que ninguém além dos filhos de Sião conhececem” (Trecho da canção:
“Glorious Things of Thee are Spoken” de John Newton. No original em inglês a
frase diz: “Solid joys and lasting treasures. None but Zion’s children know.”).
Por: David Powlinson. © 2010 9Marks.
Original: The
Therapeutic Gospel.
Este artigo
faz parte do 9Marks Journal. Tradução: Paulo Santos. Revisão:
Vinícius Musselman Pimentel. © 2015 Ministério Fiel.
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