“E ainda que entregue o meu próprio corpo
para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” (1Co 13.3b)
Paulo comenta agora sobre a situação extrema de alguém ser tão dedicado
a Deus que se entrega para ser queimado. Talvez estivesse pensando nos três
amigos de Daniel - Sadraque, Mesaque e Abede-Nego -, que preferiram “ENTREGAR
OS SEUS CORPOS, A SERVIREM E ADORAREM A QUALQUER OUTRO DEUS, SENÃO AO SEU
DEUS”. [1] Um caso belíssimo (e real!) de fidelidade a Deus.
Em vez de sacrifício forçado pelas circunstâncias, é mais provável que a
idéia embutida no texto (embora absurda) fosse de alguém que, espontaneamente,
se deixasse martirizar, com o propósito de mostrar a sua dedicação a Deus.
Em
qualquer dos casos, o sacrifício teria sido em vão, se partisse de alguém que
não amasse o próximo.
Parece incrível, mas a verdade é que Deus não está interessado em
ser adorado e servido por pessoas que não amam! No livro de 1 João, o apóstolo
não cansa de argumentar que o verdadeiro amor a Deus só existe quando é
acompanhado pelo amor aos homens. Dizer que se ama a Deus, e não amar os
semelhantes, é mentira. [2] A falta de amor ao próximo é prova da
inexistência do amor a Deus. [3]
Existe o tipo de crente que não gosta de se envolver com pessoas,
orgulhando-se de se relacionar diretamente com Deus. É o “adorador egoísta”.
Estuda a Bíblia, lê bons livros, ora regularmente, mas é fechado para os
outros. Tenta cuidar do relacionamento vertical - ele e Deus -, mas despreza o
horizontal - ele e os homens. Freqüenta a igreja, sim, mas para ser edificado
com a pregação, para realizar-se cantando hinos e para se divertir conversando
com as pessoas de quem gosta. Raramente se dispõe a colocar sobre os ombros um
pouco da carga do trabalho da igreja. Não costuma estender a mão a quem dela
precisa nem dar de si para que outros cresçam.
Um estilo de vida como esse não
satisfaz a Deus. Falta amor. Imagine que alguém assim entrasse um dia na
igreja, com uma lata de gasolina na mão e um palito de fósforo na outra,
dizendo que iria dar a própria vida para mostrar o quanto adorava a Deus.
Muitos clamariam “Oh!”, admirados com a nobreza do gesto, talvez sentindo-se
indignos de simplesmente presenciar o valioso sacrifício de um mártir. Mas se
houvesse uma pessoa com o mínimo de sabedoria, sua reação seria bem diferente:
“Ei, irmão, que tolice é esta? Apesar de falar muito em Deus, você não se
envolve com as pessoas, é frio, distante. Pensa que o seu sacrifício vai servir
diante de Deus? Vamos, deixe de lado essa gasolina e aprenda a amar. Servindo e
ajudando os seus semelhantes, a sua vida será muito mais valiosa a Deus. Venha
cá, dê-me um abraço!”.
Não é apenas o crente arredio que precisa cuidar de amar as pessoas. O
que trabalha intensamente na igreja também deve estar atento. Nesse caso, a
tendência é se considerar sempre ocupado demais, com muita coisa por fazer. E
termina cometendo o erro de valorizar mais o serviço do que os próprios irmãos
a quem serve!
Por isso é tão comum encontrar líderes atuantes e eficientes enfrentando
problemas de relacionamento pessoal. Infelizmente. Corta o coração ver obreiros
incansáveis no trabalho do Senhor, zelosos pelo reino de Deus, consagrados à
igreja em que se congregam, mas desajeitados ao lidar com os irmãos. Magoam com
facilidade, ferem sensibilidades, e sempre há alguém com alguma queixa contra
eles. Que pena!
Se você é desses que falham no amor ao próximo, não se deixe
impressionar com o “enorme” valor do seu trabalho cristão. Para você, esse
valor pode até ser incalculável, mas, para Deus, já está estabelecido: zero. Se
o sacrifício de um mártir nada vale se não houver amor, porventura o seu
serviço vale???
NOTAS:
[1] -
Dn 3.28b.
[2] -
1Jo 4.20.
[3] -
1Jo
Mauro
Clark
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