Por C. Matthew McMahon
Existe um dilema na igreja cristã
hoje que será esclarecido facilmente. É caracterizado por pessoas que dizem
coisas como “nós somos uma igreja do Novo Testamento”, ou “nós não precisamos
mais da Lei porque estamos debaixo da graça”, ou “as pessoas que guardam a Lei
são legalistas”. Se você disse coisas como estas no passado, este texto é para
você. Iremos observar a diferença entre o que significa ser legalista, e o que
significa ser obediente. Há um grande abismo entre os dois significados. Mas
parece que muitas pessoas falham em entender o que ambos significam.
Há um argumento na igreja do
século XX que é algo do tipo: Jesus cumpriu a Lei, portanto nós não precisamos
guardar a Lei. A idéia continua desta forma: E nós não precisamos guardar a Lei
porque estamos debaixo da graça de Cristo; não podemos conquistar a salvação
por nós mesmos de modo algum, portanto o Antigo Testamento é inválido como
regra de vida e prática. Como exemplo, existem muitas pessoas que desconsideram
o Sermão do Monte porque Jesus expôs a Lei naquela ocasião. Eles colocariam
tudo que, de qualquer forma, aluda ou afirme a Lei no lixo. Eles não dão uma
resposta satisfatória de por que Deus, em sua providência, permitiu que o
Antigo Testamento fosse incluído em nossa Bíblia, uma vez que ele lida com a
Lei. Eles têm certeza de que não precisam disso, mas não podem dar uma boa
resposta ao “por que”. Estas pessoas sentem que a observação da Lei, de
qualquer tipo, é um ato de legalismo. E eles não querem tornar-se como a igreja
da Galácia novamente. Assim, eles fluem na graça, e desviam-se da Lei.
Definir legalismo de uma forma
bíblica seria dizer “alguém que toma a Lei e a usa de uma forma que mereça a
salvação”. Legalismo é uma tentativa de salvação. Ainda assim, freqüentemente
ouvimos o termo usado dessa forma: “Oh, estas pessoas são legalistas”. Os
puritanos foram freqüentemente esteriotipados desta forma. Eles eram tão firmes
em trazer o significado da Lei, que foram considerados legalistas. Mas se
realmente entenderemos a definicação acima, então descobriremos que pessoas que
seguem a Lei de Deus de uma forma que não buscam adicionar algo à obra
meritória de Jesus Cristo e à sua Cruz não são legalistas. Legalista, por
definição, seria dizer que a Lei ajuda a ganhar a salvação. Este foi o problema
com os judaizantes. Eles pensavam que guardar a Lei mais crer na obra de Cristo
fazia uma pessoa salva. Em Gálatas 5:4, Paulo diz: “De Cristo vos desligastes,
vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”. Existiam alguns
que pensavam que ser circuncidado ajudava na salvação. Mas Paulo diz que no
momento que você adiciona alguma coisa à obra de Cristo, então você caiu da
graça. A obra de Cristo somente justifica o ímpio (Gl 2:16; 3:11-13, 24;
6:13-14). (Solo Christus - Cristo Somente).
Legalistas estão errados. Você
não pode usar a Lei para ser salvo. Você não pode guardar os mandamentos como
forma de justificação porque ninguém faz só o que é certo e nunca peca (Ec
7:20). Aqueles que tropeçam em um ponto são culpados da Lei inteira (Tiago
2:10). A Lei apresenta o nosso pecado, mas não pode nos salvar. Ela somente nos
faz conscientes de nossa necessidade (Rm 7:7).
Ser legalista não é bíblico. Não
é uma opção do cristão. Então o que nós faremos? Aqueles que desconsideram a
Lei estão certos? Se Cristo dispensa sua graça a nós, e não podemos guardar a
Lei, então porque usá-la? Qual o bem da Lei? Deveríamos ser uma “Igreja do Novo
Testamento”?
É verdade que o legalismo é
errado e enviará uma pessoa ao inferno por crer nele. Gálatas 1:8 afirma: “Mas,
ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do
que vos temos pregado, seja anátema”. Mas desconsiderar a Lei lançará você no
inferno também. Apocalipse 22:14 (KJV) afirma: “Bem-aventurados aqueles que
praticam seus mandamentos, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e
entrem na cidade pelas portas”. O livro de Apocalipse deixa claro que aqueles
que devem entrar na Nova Jerusalém e passar a eternidade com Deus são aqueles
que “praticam seus mandamentos”. A palavra “mandamentos” é plural. Isto
significa que Deus requer que guardemos mais que um mandamento. E
freqüentemente as pessoas nos dirão para guardar o maior mandamento e que isto
é tudo. Mas Cristo quer que guardemos todos os seus mandamentos.
Apocalipse 22:18-19 também nos
ajuda a mostrar que Deus não quer ninguém diminua sua Palavra de forma alguma:
“Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e
das coisas que se acham escritas neste livro”. Ninguém pode tirar ou adicionar
algo à Palavra de Deus. Isto significa que devemos guardar a Lei Cerimonial,
uma vez que é parte da Palavra de Deus? E que nós temos de sacrificar animais
novamente, porque a Lei Cerimonial nos diz isto no Antigo Testamento? Estas são
boas questões, e as respostas a estas e questões similares são respondidas com
um conhecimento equilibrado da obra de Cristo.
Cristo veio e completou a Lei. Em
Mateus 5:17, Jesus diz que ele veio para “cumprir a Lei”. A palavra “cumprir” é
plhro,w, {play-ro'-o]. Isto significa “tornar cheio, completar; fazer
completo em todo particular, tornar perfeito; levar até o fim, consumar,
efetivar (alguma promessa); cumprir; i.e. fazer com que a vontade Deus (como
conhecida na Lei) seja obedecida como deve ser, e as promessas de Deus (dadas
por meio dos profetas) recebam cumprimento”. Jesus veio para cumprir a Lei e
completá-la em nosso lugar. Isto não significa que ele acabou com ela, ou a
tornou nula. Este não é o significado da palavra usada.
Em Mateus 5:18, um versículo
depois, ele diz: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem,
nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Não somente
Jesus não anula a Lei por nós, mas pelo contrário, ele faz justamente o oposto:
que diante de sua obra para cumpri-la, nem um “i” ou til deve ser removido. Por
causa de sua obra como Salvador sem pecado, Jesus deu aos cristãos a capacidade
na salvação de fazer escolhas morais de uma nova forma, com respeito à Lei. Ele
guardou a Lei de forma que podemos guardá-la também. A obra de Jesus
capacita-nos a correr a corrida de uma forma digna a ganhar o prêmio. Ele não
invalida a Lei, mas a coloca diante de nós, sabendo que ele estará trabalhando
em nós para guardá-la. E apesar de falharmos em guardá-la, ele trabalha em nós
para ultrapassarmos as barreiras.
A noção legalista aqui é
destruída. Não guardamos a Lei para sermos salvos. Pelo contrário, ao guardar a
Lei mostramos a nós mesmos que já recebemos a salvação por meio da cruz de
Cristo. À luz da cruz de Cristo e da libertação do pecado, que recebemos, somos
agora livres para guardar a Lei (Gl 4:31).
Cristo requer obediência. Nós não
nos tornamos antinomianos. E aqueles que dizem que devemos nos livrar da Lei
não são nada além de antinomianos heréticos. Um antinomiano é alguém que é “anti',
“contra” ou “contrário”, ao “nomos” ou “lei”. Ele diz que uma pesosa pode ser
salva e nunca ter de preocupar-se em viver uma vida de obediência porque
estamos debaixo da graça de Cristo. Mas Paulo rapidamente dispensa esta idéia
em Romanos, quando ele diz: “E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo
da lei, e sim da graça? De modo nenhum!” (6:15). Nós não recebemos liberdade
para pecar, mas recebemos liberdade para não pecar. E como nós não pecaríamos a
não ser que saibamos o que o pecado é? E como nós saberemos o que o pecado é a
não ser que sigamos a Lei? “É a lei pecado? De modo nenhum!” (Romanos 7:7).
Deus nos deu seus mandamentos para que possamos nos tornar obedientes a seus
mandamentos. E nós somos capazes de ser obedientes por meio do sacrifício de
seu Filho na cruz por nós. Sem o lavar-se no sangue de Cristo, nenhum homem é
capaz de seguir a Lei. Não, nós não somos legalistas, e não somos antinomianos.
Nós somos cristãos que desejam fazer a vontade do Pai. Nós somos aqueles que
podem dizer com Paulo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra.” (2Tm 3:16-17). Os antinomianos não podem dizer isto. Os legalistas não
podem dizer isto. Somente aquele que é liberto por Cristo para guardar a Lei
pode dizer isto, porque ele considera toda a Palavra de Deus como sendo útil.
Para quê? Para ser habilitado para toda boa obra.
Nós não somos legalistas quando
guardamos a Lei, porque não buscamos a Lei para encontrar a vida. Pelo
contrário, a Lei nos apresenta que temos verdadeira vida em nossos corações.
Guardamos a Lei para sermos obedientes a Cristo e apresentar-lhe o quanto nós o
amamos por ter nos resgatado das influências condenáveis de tentar guardar a
Lei para ganhar a vida eterna. Obediência está muito longe de legalismo.
“O que é obediência?” deveria ser
a próxima questão a ser respondida. Obediência é expressar o amor de Cristo a
Cristo ao guardar a Lei. Cristo produz em nós o fruto do Espírito (Gl 5:22-25).
O Espírito produz em nós o amor de Cristo por boas obras; pois é para isto que
fomos criados. Deus nos criou para as boas obras (Ef 2:10). O amor de Cristo em
nós nos leva a boas obras quando estudamos e observamos a Lei. Em nosso prazer
neste trabalho diante de Deus, Deus se compraz, e ele é glorificado. Quando nós
nos agradamos em seguir todos os mandamentos de Deus, ele se agrada. Não
deveríamos ser obedientes a Deus quando Deus, em numerosas passagens, ordena
obediência de nossa parte como representantes de sua Palavra? (Nm 27:20; Isaías
1:19; Atos 6:7; Rm 6:16; 16:19; 16:26; 2Co 7:15; 9:13; Fp 1:21; 1Pe 1:2). Deus
requer de nós que sejamos obedientes em toda circunstância, e aqueles que
ensinam diferente são lobos malignos disfarçados em pele de cordeiro para
enganar o povo de Deus. E é interessante ver que em Mateus 7:15 Jesus chama
aqueles que maltratam o rebanho de “loubos roubadores”. Ele diz isto no final
do Sermão do Monte, que é uma exposição dos Dez Mandamentos e da vida no Reino.
Isto não é coincidência. Deus não quer falsos profetas vindo à igreja contando
a ela que não é necessário guardar a Lei. Isto não é nada, senão blasfêmia e
heresia contra a Palavra de Deus. Nós devemos nos esforçar para guardar a Lei
de uma maneira santa por meio de Cristo.
Assim, nós vemos o grande abismo
entre o que signifca ser legalista (guardar a Lei para a salvação) e obediente
(guardar a Lei porque fomos salvos). Nós precisamos da Lei para mostrar o nosso
pecado. Nós precisamos da Lei para nos dirigir à justiça. Nós precisamos dos
mandamentos de Cristo que estão distribuídos por toda a Escritura para alcançar
nossa santificação e santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14).
Salvação não depende de guardar a Lei, pelo contrário, nossa salvação é vista
em nós quando guardamos a Lei.
Caminhe por qualquer igreja do
século XX neste domingo e pergunte sobre o que significa guardar o Dia do
Senhor. Como uma pessoa segue o quarto mandamento? As pessoas olhariam para
você perplexas. Elas veriam você como um legalista. E se você não levantasse a
questão, isto nunca teria entrado em suas mentes. Mesmo quando eles participam
da lição da Escola Dominical, cantam um hino ou dois, e ouvem um sermão, elas
esperam a benção final durante o domingo na Igreja e nunca percebem o que o Dia
do Senhor significa. Isto é uma piada; é pecado.
Que sejamos o povo da Palavra, da
Palavra inteira e nada mais do que a Palavra. Que joguemos fora a heresia do
legalismo, e abracemos a obediência a Cristo. Pois, a não ser que obedeçamos a
Cristo, nós não temos parte nele. Por isso ele diz: “Por que me chamais Senhor,
Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46). Não somos legalistas
quando obedecemos a Cristo, pelo contrário, nós somos cristãos quando o
obedecemos.
Traduzido por: Josaías Cardoso
Fonte: http://www.monergismo.com
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