O que fazer
quando ficar deprimido?
© Jay E. Adams
Talvez você nem
queira ler este folheto. Quando se está deprimido, com certeza, não se tem
disposição para isso.
— De que adianta
tentar mais alguma coisa?, pode-se perguntar. — No fim das contas, nada
adiantou.
Mas, antes de
botá-lo de lado, deixe que eu diga claramente coisa que espero se grude em
você, mesmo que você o ponha de lado por um tempo; acho que isso vai lhe
fazer querer pegá-lo de novo para terminar de ler o que tenho a dizer. É o
seguinte: o seu caso tem esperança; a sua depressão pode ser derrotada, não
somente agora, mas para sempre. Quero lhe ensinar neste panfleto como sair da
depressão e não cair mais nela. Se conseguir ler até o fim desse parágrafo
vai ficar sabendo que centenas de outras pessoas, deprimidas do mesmo jeito que
você, descobriram que isso é possível. Se conseguir ler o folheto até o fim
vai ver que não vai ler nada complicado, que não leva muito tempo para chegar
lá e que nunca deixa de funcionar. A razão por que afirmo essas coisas com
tanta ênfase é que o jeito de derrotar a depressão que lhe descreverei não
é meu, nem de nenhum outro homem, mas é o jeito Deus.
É por isso que
há esperança. Há esperança porque você pelo menos já chegou à conclusão
de que nenhum outro jeito funciona. Com o que concordo. Até este momento você
não fez a coisa do jeito de Deus; você não acha que já está na hora de
levar em conta o que Ele tem a dizer?
— Qual é a isca?
Pergunta você.
Se para você isca
significa as condições para achar um jeito de sair de depressão, eu lhe
direi que são três:
1. Você tem que
conhecer Deus pessoalmente antes de esperar que Ele lhe ajude.
2. O seu objetivo principal não pode ser jamais o alívio da depressão, mas o desejo de agradar a Deus fazendo aquilo que Ele diz.
3. Você tem que
fazer exatamente o que Ele diz, sem importar como você se sinta.
São essas as
condições. Se você achava que isca significava que há outros fatores, só
revelados mais tarde, que amenizarão as minhas afirmativas iniciais eu lhe
asseguro, então, que não existem. A depressão pode ser derrotada pelas
orientações de Deus e pelo poder que Ele concede pelo Seu Espírito para
capacitar àqueles que O conhecem a seguirem à Sua Palavra.
Aí você
responde, com reserva e cautela:
— Tudo bem.
Fale-me sobre isso. Eu estou interessado, mas não vou atiçar a minha
esperança tão cedo. Vou ouvir tudo o que você tem para dizer, mas não quero
que as minhas esperanças comecem a se elevar somente para depois despencarem
estilhaçadas ao meu redor em uma ou duas semanas. Isso dói demais. Elas já
se levantaram antes somente para se destroçarem sempre e sempre. Então vamos
começar com uma dessas iscas ou, como prefere chamá-las, condições: que é
que você pretende ao ficar aí dizendo que eu tenho que conhecer Deus? Não
entendo isso muito bem.
Acho bom que
tenha feito essa pergunta logo no começo porque ela é básica. Todo o resto
depende dela. Você nunca pode usar Deus como se Ele fosse uma máquina para
produzir aquilo que você quer, nem pode fazer o que a Bíblia manda como se
fosse uma técnica ou um truque para atingir seus objetivos. Embora Deus, nas
Escrituras, invoque princípios e métodos que, de fato, transformam vidas,
esses princípios, quando acionados por você, não entram mecanicamente em
funcionamento sem a bênção de Deus. Para que isso ocorra você tem que não
estar brigado com Deus.
— Acho que ainda
não entendo.
Certo, então
deixe que eu explico. Eu e você, como todo ser humano nascido no mundo, à
exceção única de Jesus Cristo, nascemos pecadores. Nossos pais eram
pecadores e só podiam gerar pecadores. Os seus filhos, à sua semelhança,
também nascem pecadores. A Bíblia ensina que “todos pecaram e carecem da
glória de Deus” (Romanos 3.23). Quando Deus diz “todos”, isso é exatamente o
que Ele quer dizer. A demonstração disso você vê em tudo aquilo que lhe
cerca; você nunca encontrou ninguém perfeito. Mas é exatamente aí que está
o problema, Deus é Deus Santo. Ele habita na perfeita justiça, mas, por
sermos pecadores, não estamos qualificados para habitar com Ele e tornamo-nos
Seus inimigos por não obedecermos aos Seus mandamentos. Ele disse: “Não
dirás falso testemunho”, mas nós mentimos; “Não furtarás”, mas não há
entre nós quem não tenha roubado, a começar pelos biscoitinhos da lata de
biscoitos quando éramos somente crianças. Desobedecer significa também que
nos colocamos em perigo, porque Deus não apenas é Deus Santo, mas é também
o Justo Juiz das Suas criaturas. Ele decretou que devemos pagar pelos nossos
pecados; mas é também misericordioso e providenciou o perdão dos pecados em
Cristo. Quem não teve os pecados perdoados por Deus, não participará da
glória eterna que Deus partilhará com os que chegaram a conhecê-lO. É disso
que eu falo.
— Mas, como se
chega a conhecê-lO.
Pela fé em Seu
Filho Jesus Cristo. É isso o que eu quero dizer. Por não podemos, por nós
mesmos, nos livrar dos nossos pecados Deus, em Sua misericórdia, providenciou
o perdão enviando o Seu Filho para morrer em lugar de pecadores culpados,
recebendo em lugar deles o castigo que mereciam por seus pecados. Quando
reconhecem a situação do perigo que correm diante de Deus, se arrependem
verdadeiramente da vida de rebelião quem vêm levando e dependem somente da
morte de Jesus na cruz, Deus os livra (salva-os) do castigo eterno. Deus não
os considera mais culpados por seus pecados e os aceita como amigos. De agora
em diante Ele não será apenas o Juiz deles, mas também o seu amoroso Pai
Celestial. Àqueles que vêm a conhecer a Deus assim, Deus cumpre e guarda as
promessas que revelou na Bíblia. Promessas que só pertencem a eles e a mais
ninguém.
Você pode
descobrir mais sobre isso através da leitura das seguintes passagens da
Bíblia: Efésios 2.8, 9; João 3.16; Romanos 4.4, 5. Se você ainda não
consegue compreender isso, consulte a pessoa que lhe entregou este folheto ou
entre em contato com a instituição responsável pela veiculação deste
artigo.
Mas vamos
considerar que você tenha posto a sua fé em Cristo e já conhece a Deus como
o Seu Salvador e Senhor e, apesar disso, continua atormentado pela depressão.
Lembre-se de que eu disse que conhecê-lO era uma das condições para derrotar
a depressão; eu não disse que bastava conhecê-lO para resolver o problema.
Prossigamos, então, na análise da matéria.
Embora a
depressão seja um problema terrivelmente esgotante e muito difundido tanto
entre os crentes quanto entre os que não conhecem a Deus, não é um problema
difícil de resolver o tanto quanto aparenta à primeira vista. O que você
precisa reconhecer é que a depressão resulta de um defeito no autocontrole e
na autodisciplina. Uma das atividades do Espírito Santo de Deus é produzir
essa disciplina naqueles que, pela obediência fiel à Sua Palavra, buscam
agradar a Deus fazendo aquilo que Ele diz e não o que acham que deveriam fazer
(cf. Gálatas 5.23). Esse é o cerne da questão.
— Bem, a coisa
ainda está um tanto obscura para mim. Se você quer que eu entre nessa, vai
ter que detalhá-la com muito mais clareza.
Claro, eu só
estava falando de modo genérico; antes de descer a pontos específicos queria
que você soubesse dos fatos básicos, na medida em que prosseguimos. Vamos,
então, tocar no ponto crucial da coisa, mostrando que donas de casa,
sacerdotes e todos quantos devem definir e cumprir os seus próprios horários
são especialmente vulneráveis à depressão. Raramente sofrem de depressão
aqueles cujo trabalho diário seja rotineiro e cujos resultados foram
planejados para que até ao meio-dia devam ter produzido uma quantidade X de
trabalho e até às 17h um outro tanto de X. Isso é porque o trabalho deles
não depende de AUTOcontrole e de AUTOdisciplina. Os outros é que os
disciplinam e controlam a sua produção. Por isso raramente deixam de conta do
trabalho.
Por outro lado, para
quem precisa aprender a controlar e a disciplinar a si mesmo, numa época em
que quase não se enfatiza a disciplina, muitas vezes tudo o que falta para se
começar a cair em desespero e depressão é passar por um revés que o seduza
a desviar o foco para o próprio revés levando-o a se esquecer das suas
obrigações. Isso quebra a programação, faz com que deixe de cumprir as sua
tarefas — que vão se amontoando — e aí, nesse ponto, já terá descido direto
pela ladeira que leva à depressão. Misture numa mesma panela o revés
(doença, decepção, a culpa de um pecado inconfesso, etc.), a incapacidade de
lidar com o revés do jeito de Deus, a tendência de ir atrás dos sentimentos
em vez de correr atrás do prejuízo, e a disposição para se lamuriar em
grupo (ou choramingar funks tristes) e terá todos os ingredientes essenciais
para preparar o pirão grosso de sabor podre da depressão.
Deus nos
construiu de um jeito que quando deixamos de cumprir corretamente as nossas
responsabilidades as nossas consciências disparam maus sentimentos. Se essas
coisas não forem bloqueadas logo no seu começo ela nos levarão, ao fim e ao
cabo, à depressão. Davi via a depressão como um sinal gracioso de Deus cuja
intenção era conduzi-lo ao arrependimento e à mudança de atitude ou
comportamento (depois de haver pecado ele disse: “a tua mão pesava dia e noite
sobre mim” – Salmos 32.4). A culpa subjacente à depressão decorre da
incapacidade de lidar com o problema ou o revés do jeito de Deus; portanto,
deixar de atender a esse aviso ou qualquer tentativa de silenciá-lo por
tratamentos de choque, uso de antidepressivos, bebidas alcoólicas, etc., é
só mais um fracasso que vem somar-se à culpa e aumentar a intensidade dos
maus sentimentos que brotam dela. O resultado é que a depressão cresce
ciclicamente cada vez mais.
Um bom lugar para
começarmos a considerar a solução de Deus para o fracasso fundamental que
está por trás da depressão é levar a sério as palavras do apóstolo Paulo
em II Coríntios 4.8: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados;
perplexos, porém não desanimados”. Houve muitas vezes em que Paulo achou
difícil enfrentar oposição e dificuldades; também houve circunstâncias em
que não sabia que atitude tomar. Ele foi afligido e ficou perplexo, mas não
deprimido. Nessas horas de provação, Deus o capacitou totalmente para lidar
com cada uma dessas dificuldades sem cair em desespero. Paulo passou por
revezes, mas não deixou que o impedissem de continuar no curso objetivo de uma
ação que iria acontecer; não se desesperou nem desistiu dos trabalhos que
sabia que Deus queria que fizesse; sentia-se para baixo, mas não esgotado. A
pessoa deprimida é aquela que ao sentir- se para baixo, também estanca.
Agora, é vital
que se compreenda a importante diferença que há entre ficar perplexo,
desapontado, triste, fisicamente fraco, ou até mesmo sentir-se para baixo por
causa da culpa, e ficar deprimido. Todos nós, à semelhança de Paulo, nos
sentimos para baixo e todos nos entristecemos, às vezes; todos ficamos
desencorajados, mas isso não é depressão. A depressão nos pega quando não
conseguimos lidar com as tristezas, os desapontamentos, a perplexidade, a culpa
ou a aflição física do jeito de Deus. Ela ocorre sempre que deixamos que os
maus sentimentos ligados a esses problemas nos impeçam de cumprir os nossos
deveres. Quando vamos atrás dos nossos sentimentos e deixamos de cumprir as
nossas obrigações para com e Deus e para com os nossos semelhantes
tornamo-nos culpados e isso faz a gente se sentir muito pior. Quando os
sentimentos de culpa se somam aos maus sentimentos que já nos assolam isso faz
a gente se sentir muito pior e por isso menos prováveis de realizarmos nosso
trabalho. Se seguirmos os sentimentos crescentes de descontentamento — o que
sempre é mais fácil de fazer — vamos desencadear mais desses sentimentos, ad
infinitum. Vê agora o que eu pretendia quando disse que a depressão é
cíclica?
— Sim, é
realmente assim; ela só vai piorando cada vez mais.
Certo. Enquanto
você continua a ir atrás dos seus sentimentos que lhe dizem que você “não
consegue” fazer aquilo que você sabe que devia estar fazendo e não faz,
ocorre que você se enfia cada vez mais no buraco da depressão, fazendo cada
vez menos até que finalmente não faz mais nada senão ficar jogado no sofá,
empanturrando-se de doces e assistindo TV. Isso lhe parece familiar?
— Demais. Mas o
que se pode fazer? Descrever o problema é uma coisa, resolvê-lo é outra.
Concordo, mas é
importante ver com clareza como funciona essa dinâmica para que se adote a
solução acertada. Tenho observado que a depressão surge do fato de se tratar
erradamente uma situação em que você se sente mal. Os maus sentimentos podem
se originar do seu próprio pecado ou pelo fato de, depois de ficar prostrado
com uma gripe por quatro dias, ter que voltar para o trabalho acumulado na sua
ausência e que você acha que não vai dar conta por ser bem maior do que o
normal e por você estar mais fraco do que sempre. Pode ser que tenha deixado
de passar a roupa (— Olha só que monte de roupas!) ou de corrigir as provas
empilhadas na mesa (— Nunca vou conseguir corrigir aquelas provas se não
estiver mais disposto!). Sejam quais forem os aspectos específicos do
problema, uma coisa predomina: em vez de fazer aquilo que sabe que tem de
fazer, quando passa o controle aos sentimentos na esperança de que mais tarde
tenha mais vontade de cumprir a obrigação temida, você já deu alguns passos
largos no caminho infeliz da depressão; então, a chave para se proteger da depressão
é a seguinte: não vá atrás dos seus sentimentos quando sabe que tem uma responsabilidade
a cumprir. Em vez disso faça o que deve mesmo contra os sentimentos e quando o
fizer, mesmo que no início seja mecanicamente, faça-o simplesmente porque
quer agradar a Deus e porque sabe que Ele quer que você o faça, o seu
sentimento muda com o tempo. Deus lhe dará a sensação de satisfação e
realização e grande entusiasmo por aquilo que antes temia. Você não deve
esperar pela vontade de fazer a coisa, pode ser que nunca venha a tê-la; nem
deve tentar mudar os seus sentimentos diretamente, você não pode fazer isso.
Faça aquilo que você sabe que Deus quer que você faça, TENDO OU NÃO
VONTADE PARA ISSO, e com o tempo vai ocorrer, como efeito colateral, uma
mudança de sentimentos. Esse é o segredo para fazer descer pelo ralo a maré
da depressão quando ela começar a lhe afogar. Não há outro jeito.
— Você está
dizendo que se eu fizer o que sei que Deus quer que eu faça, simplesmente para
O agradar, quer eu tenha ou não vontade, então Ele vai abençoar isso e
fortalecer-me e finalmente até mesmo modificar também os meus sentimentos?
É isso aí!
Falando em termos simples, faça o seguinte: 1. Faça uma lista completa de
todas aquelas coisas que você sabe que está negligenciando só porque não
tem vontade de fazê-las; 2. Comece a fazê-las para agradar a Deus e àqueles
que dependem de você (seu cônjuge, sua família, seu chefe, seu parceiro de
pensão, etc.). 3. Continue a fazê-las a despeito de como se sentir e quando
começar a ver a tarefa realizada vai passar a sentir uma mudança nos seus
sentimentos. A maré foi virada. Dona de casa: vá em frente, limpe a casa,
comece a preparar de novo as refeições, levante-se cedo para ver seu marido
sair para trabalhar. Vendedor: saia do escritório, tire a lista de clientes da
gaveta, pegue o telefone e comece a agendar suas reuniões de contato. Daí,
caia na estrada e vá atrás deles até que estejam todos na sua carteira de
clientes. O que tiver de ser feito, seja lá o que for e você sabe o que é,
parta para ação — não espere até ter mais vontade para o fazer. Não o
largue até à hora mais conveniente, o que tiver para fazer agora, faça. Não
deixe mais uma hora passar.
Assim, depois de
ter empurrado para lá a depressão, pense no futuro. Você pode continuar
livre da depressão no futuro exatamente do mesmo jeito que você saiu dela
depois de ter resvalado no seu poço: faça aquilo que Deus quer que seja feito
mesmo nos períodos desanimados da sua vida, QUER VOCÊ ESTEJA A FIM OU NÃO; e
assegure-se de organizar a sua vida no futuro e de cumprir o planejado a
despeito de como se sentir. Busque a ajuda de algum pastor ou profissional, se
não souber como fazer um planejamento. Esse conselheiro também deve ter
condições de monitorar por um tempo o modo como você está cumprindo o
planejado até que se acostume a viver de acordo com ele. É um modo dessa
pessoa lhe estimular “ao amor e às boas obras” (Hebreus 10.24). O próprio
Deus planeja e organiza-se; você, que foi criado à Sua imagem e semelhança,
não pode abrir mão da organização que o planejamento dá. Se você
organizar bem a sua vida não terá tempo para lamúrias em grupo, nem tempo
para se pendurar a manhã toda no telefone com um velho amigo queixando-se
durante o cafezinho do quanto as coisas estão ruins, quando deveria estar
fazendo o serviço de casa. O cafezinho deve vir depois das tarefas
domésticas, não em lugar delas.
Bem, é isso.
Agora você sabe o que fazer para sair de depressão e o que fazer para se
manter fora dela. Deixe-me resumi-lo de novo com palavras um pouco diferentes:
1. Confesse o
pecado de deixar de assumir as suas responsabilidades e outros pecados
quaisquer que tenha deixado de confessar;
2. Comece a fazer
aquilo que Deus quer que você faça para O agradar, a despeito de estar ou
não a fim de fazê-lo;
3. Trate
biblicamente de qualquer pecado específico que tenha originalmente
desencadeado o mau sentimento (que pode, contudo, não ter se originado no
pecado);
4. Fuja dos
festivais de lamúrias, de funks deprimentes e grupos de murmuração. Organize
seu trabalho e siga a sua agenda, não os seus sentimentos.
Copyright 1975 by Jay F. Adams - Fonte: http://www.peacemakers.net/unity/adepressed.htm Tradução: Marcos Vasconcelos — junho/2005 — marcos.tradutor@gmail.com
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