Thomas
Watson (1620–1686)
Devemos
agir com violência contra Satanás. Ele se nos opõe tanto pela violência
explícita quanto pela perfídia secreta. Por causa da sua manifesta violência
ele é chamado de o dragão vermelho; pela sua perfídia, de a antiga serpente.
Lemos nas Escrituras quanto às suas armadilhas e dardos. Ele fere mais com as
suas armadilhas do que com os seus dardos.
A
Violência de Satanás. Ele trabalha diligentemente para tomar de assalto o
castelo do coração, instigando a paixão, a concupiscência, e a vingança.
Esses são os chamados dardos inflamados (Ef 6.16) porque põem sempre a alma
em chamas. Por causa da sua ferocidade ele é cognominado de leão: “O Diabo,
vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém
para devorar” (1Pe 5.8); não para morder (como diz Crisóstomo), mas para
devorar.
A
Perfídia de Satanás. Aquilo que ele não consegue fazer pela força, se
empenhará para alcançar pela fraude. Satanás tem muitas maneiras ardilosas
de tentar. Para adequar as suas tentações à índole e temperamento do
indivíduo, Satanás estuda a fisionomia (isto é, os aspectos e as expressões
faciais) e coloca as iscas apropriadas. Ela conhecia a inclinação cobiçosa
de Acã e o tentou com uma barra de ouro. Ao vaidoso ele tenta com a beleza.
Um
outro ardil é conduzir os homens ao mal, sub specie boni, sob o pretexto de um
bem. Assim como o pirata engana exibindo uma bandeira falsa, também Satanás o
faz exibindo a bandeira da religião. Ele leva alguns a cometerem ações
pecaminosas persuadindo-os de que muitas coisas boas resultarão delas. Algumas
vezes lhes diz que podem deixar de lado a regra da Palavra e levar as suas
consciências para além dessa fronteira, de modo a serem capazes de prestar um
maior serviço — como se Deus precisasse do nosso pecado para exaltar a Sua
glória.
Satanás
tenta ao pecado gradualmente. Assim como o lavrador cava em torno da raiz de
uma árvore fazendo-a gradativamente perder a sua firmeza e, por fim, cair,
Satanás infiltra-se gradualmente no coração. No princípio ele é mais
moderado. Ele não disse a Eva de supetão: “Coma o fruto”; não, trabalhou
mais sutilmente, fazendo uma pergunta: “Deus disse isso? Eva, você deve estar
enganada. O dadivoso Deus nunca teve a intenção de lhe privar de uma das
melhores árvores do jardim. Será que Deus disse isso? Certamente que não, e
se o disse, não foi essa a intenção dEle”. Assim, pouco a pouco, ele a fez
duvidar, e ela, então, colheu o fruto e o comeu. Oh, acautele-se dos primeiros
impulsos, aparentemente mais modestos, de Satanás para lhe fazer pecar —
principiis obsta (isto é, opõe-te desde o começo)! No princípio ele é uma
raposa, e em seguida, um leão.
Satanás
tenta ao mal in licits, nas coisas lícitas. Era lícito a Noé comer do fruto
da vide, mas ele bebeu demais, e assim pecou. O excesso torna aquilo que é bom
em mau. Comer e beber podem se converter em intemperança. Quando em excesso, a
diligência na profissão é cobiça. Satanás leva os homens a um amor
exagerado por aquilo que fazem, fazendo-os transgredir naquilo que amam, assim
como Agripina envenenou o seu marido Cláudio com a carne que ele mais gostava.
Satanás
inclina os homens a fazerem o bem motivados por maus motivos. Se ele não os
puder ferir com ações escandalosas, ele o fará com ações virtuosas.
Portanto ele tenta alguns a adotarem a religião como um modo de se promoverem
e a dar esmolas para receberem aplauso, para que os outros possam ver as suas
boas obras e canonizá-los. Tal hipocrisia contamina os deveres da religião e
os faz perder a recompensa.
O
Diabo persuade os homens ao mal através daqueles que são bons. Isso dá um
falso brilho às suas tentações tornando-as menos suspeitas. Algumas vezes o
Diabo usou os mais eminentes e santos homens como agentes das suas tentações.
O Diabo tentou Cristo através de um apóstolo — Pedro a dissuadi-Lo de sofrer.
Abraão, um homem bom, mandou sua mulher ser ambígua: “Dize, pois, que és
minha irmã”.
São
essas as sutilezas de Satanás ao tentar. Agora, aqui temos que agir
violentamente contra Satanás através da fé: “resiste-lhe firmes na fé” (1Pe
5.9). A fé é uma graça sábia, inteligente; ela pode perceber o anzol que
vai escondido na isca. Ela é uma graça heróica, é quem, acima de tudo,
apaga os dardos inflamados de Satanás. A fé resiste ao Maligno.
A fé
protege o castelo do coração para que ele não se renda. Ser tentado não
torna o homem culpado, mas o assentir à tentação. A fé protesta contra
Satanás.
A fé
não apenas não se rende, mas derrota a tentação. Em uma das mãos a fé
agarra-se à promessa, e na outra, a Cristo. A promessa encoraja a fé, e
Cristo a fortalece; a fé, portanto, expulsa o inimigo do campo de batalha.
Temos
que agir violentamente contra Satanás através da oração. Nós o derrotamos
quando ajoelhados. Assim como Sansão clamou ao céu por socorro, assim também
o cristão, através da oração, busca forças de auxílio no céu. Em todas
as tentações recorra a Deus pela oração. “Oh Senhor! Ensina-me a usar cada
peça da minha armadura espiritual: como segurar o escudo, como usar o
capacete, como manejar a espada do Espírito. Senhor, fortalece-me na batalha;
é-me preferível morrer como conquistador, do que cair prisioneiro e ser
arrastado em triunfo por Satanás”. Por isso devemos agir violentamente contra
Satanás. Há um leão no meio do caminho, mas devemos nos decidir a lutar.
Que
isso nos encoraje a agir violentamente contra Satanás. Nosso inimigo já está
derrotado em parte. Cristo, o Capitão da nossa salvação, na cruz, já o
feriu de morte (Cl 2.15). A Serpente muito em breve será morta pela cabeça.
Cristo esmagou a cabeça da antiga serpente. O Diabo é um inimigo em cadeias,
conquistado. Portanto, não tema lutar contra ele. Resista ao diabo, e ele
fugirá; ele não conhece outra alternativa senão fugir.
Tradução: © Marcos Vasconcelos http://www.monergismo.com
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