Embora
o leitor não cite um texto específico, ele pergunta: “Por que a igreja parece
quase silenciosa em pregar e ensinar sobre o assunto da glutonaria? Ouvi dizer
que no passado a igreja pregou sobre isso, enquanto hoje nós praticamos a glutonaria!”.
A
Escritura menciona o pecado da glutonaria mais de uma vez, embora não
freqüentemente. Em Deuteronômio 21:20, os pais de Israel são ordenados a
levar um filho rebelde e obstinado aos anciãos e dizer a eles: “Este nosso
filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um
beberrão.” Esse mandamento para levar um filho rebelde aos anciãos ainda
está em vigor! Em Provérbios 23:20-21, Salomão admoesta o povo de Deus:
“Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne.
Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz
vestir-se de trapos.” Os judeus consideravam a glutonaria ser um pecado sério,
e por isso acusaram o nosso Senhor de ser “um homem comilão e beberrão” (Mt.
11:19; Lucas 7:34). Embora a glutonaria não seja mencionada por nome em
Provérbios 23:1-3, a admoestação é importante: “Quando te assentares a
comer com um governador, atenta bem para o que é posto diante de ti, e se és
homem de grande apetite, põe uma faca à tua garganta. Não cobices as suas
iguarias porque são comidas enganosas.” E seria bom ler também os versículos
4-8.
O
leitor assume em sua pergunta que a glutonaria é um pecado, mas pergunta
especificamente o porquê os ministros nunca pregam sobre ela. Eu não sei a
resposta; pode haver muitas respostas: o próprio ministro come demais; quando
um ministro condena a glutonaria desde o púlpito, as pessoas recebem tal
admoestação com hilaridade (como aconteceu uma vez comigo); muitos na
congregação são glutões e o ministro não quer ofendê-los; a glutonaria é
geralmente considerada como um pecado insignificante, não digno da nossa
atenção.
Uma
razão, contudo, pela qual os ministros raramente pregam, se é que pregam,
sobre esse pecado pode ser que a glutonaria é difícil de definir. Suspeito
que um homem magro que coma tudo o que deseja e nunca engorde sequer uma grama,
definirá glutonaria um tanto diferente da pessoa que come de forma reduzida e,
todavia, engorda com tudo o que come.
Um
homem que come com voracidade e nunca aumenta de peso pode ser culpado do
pecado de glutonaria, enquanto uma pessoa obesa pode não ser. Nem todos os
obesos são glutões, e nem todos os magros estão livres desse pecado. Os
presbíteros na igreja não descobrem quem são os glutões entrando na casa de
cada um e pesando os membros da família numa balança que carregam consigo.
Um
problema adicional de nenhuma significância pequena é: Quanto uma pessoa pode
comer antes de cair no pecado de glutonaria? Ou, na mesma linha: Quais comidas
ele deve comer e quais deve evitar, para se guardar do pecado de glutonaria?
Há
poucos glutões nos países de terceiro mundo onde o problema não é comer
muito, mas manter-se vivo. Nós que vivemos em fartura devemos considerar que o
pecado pertence especialmente aos nossos tempos e em nossas circunstâncias.
Contudo,
eu creio sinceramente que os ministros conscientes que pretendem pregar todo o
conselho de Deus, e que buscam aplicar essa Palavra de Deus à congregação,
pregam sobre glutonaria, mas fazem isso sem mencionar especificamente o pecado.
Como?
A
quantidade do que como e bebo e o tipo de comida e bebida é tudo questões de
liberdade cristã. Elas pertencem àquela área onde nenhuma lei deveria ser
feita, onde o cristão, ungido por Cristo para ser rei na casa de Deus, governa
sua vida pelos princípios da Escritura, e onde sua própria consciência é o
seu guia – uma consciência cativa pela Palavra de Deus. E assim, um ministro
consciente prega os princípios que fundamentam esse pecado. Quais são alguns
deles?
Não
devemos ficar preocupados sobre o que deveríamos comer e beber, pois Deus, que
cuida dos pardais, prometeu tomar conta de nós (Mt. 6:25-34). Muita glutonaria
começa por falhar em prestar atenção a essas palavras de Deus. Com
geladeiras cheias, nós nos preocupamos constantemente.
Não
devemos ser ascetas que, nos interesses de permanecer magro, evitamos os dons
de Deus. Devemos recebê-los com gratidão, santificá-los com a Palavra de
Deus e oração, e desfrutá-los como dons bondosos de Deus (1Tm. 4:1-5).
Nunca
devemos pensar em alimento e comida como fins em si mesmos, a serem desfrutados
por causa deles, mas devemos lembrar que nosso chamado é buscar o reino de
Deus e a Sua justiça (Mt. 6:33). Isto é, comida e bebida nos são dados por
nosso Pai do céu, para que possamos ter a força para continuar nossa jornada
de peregrinos rumo ao céu, e, enquanto estamos ainda sobre a Terra, fazermos a
obra do reino nos dada como tarefas por Cristo.
Se
nos entregamos às comidas e bebidas dos tipos mais caros e não ajudamos aos
pobres, a comida que comemos não somente nos engordará, mas se tornará em
amargura dentro de nós sob a maldição de Deus. Deus se preocupa muito com os
pobres!
Tão
importante é o reino da justiça de Deus que suas obrigações excedem comida
e bebida. Se necessário, como é para muitas pessoas, escolher entre a
instrução cristã e a comida, entre a pregação e batatas, entre missões e
pêssegos, a causa do reino de Deus deve vir em primeiro lugar.
Quando,
em nossa fartura, comemos guloseimas e comidas exóticas que não são boas
para nós, tornamo-nos glutões. Quando comemos qualquer comida que prejudique
a nossa saúde, pecamos. Isso não significa que devemos ouvir aos médicos o
tempo todo ou usar uma pequena balança na nossa mesa, ou contar as calorias
constantemente, mas significa que a regra bíblica, “seja a vossa moderação
notória a todos os homens. Perto está o Senhor” (Fp. 4:5) é uma palavra
muito necessária em nossos dias. Ao comer e beber, bem como em todas as outras
coisas, façamos tudo para a glória de Deus (1Co. 10:31).
Prof. Herman Hanko
Tradução:
Felipe Sabino de Araújo Neto1
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