Kyle Baker
Tradução:
Rogério Portella
É comum
ouvir-se hoje nas igrejas a respeito do amor de Deus. Porém, coisa raríssima é
encontrar o ódio de Deus como tópico de debate. Quando isso acontece, usa-se
certo adágio para princípio de conversa: “Deus odeia o pecado, mas ama o
pecador!” Pergunte à maioria dos crentes professos a respeito do ódio de Deus e
eles lhe responderão de modo similar.
Examinemos
as Escrituras para ver se isso é verdade!
Inicialmente,
permita-nos responder à pergunta: “Deus odeia o pecado?”
Hebreus
1.8, 9: “Mas a respeito do Filho, diz: ‘O teu trono, ó Deus, subsiste para todo
o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o
teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria’.”
O
escritor de Hebreus cita uma passagem de Salmos e a aplica ao Senhor Jesus
Cristo. É claro que Deus ama a justiça e odeia a impiedade. Portanto, Deus
odeia o pecado! Isto também é afirmado em outras passagens:
Provérbios
6.16-19: “Há seis coisas que o SENHOR
odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos
que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam
para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca
discórdia entre irmãos”.
Estas — é
claro — não são as únicas coisas que Deus odeia; elas são apenas uma pequena
lista. Podemos dizer “amém”, de coração, à primeira parte do adágio sob exame:
“Deus odeia o pecado”.
Permita-nos
responder a pergunta: “(Mas) Deus ama o pecador?”
Salmos
5.3-7: “De manhã ouves, SENHOR, o meu clamor; de manhã te apresento a minha
oração e aguardo com esperança. Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça;
contigo o mal não pode habitar. Os
arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal.
Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o SENHOR detesta.
Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua casa; com temor me inclinarei
para o teu santo templo”.
O
salmista diz que Deus “odeia todos os que praticam o mal” e que ele detesta “os
assassinos e os traiçoeiros”. Aqui Deus odeia o próprio pecador, não só seus
pecados. Repare no contraste: Deus odeia o praticante do mal, mas ama o
salmista com “grande amor”.
Salmos
11.4-7: “O SENHOR está no seu santo templo; o SENHOR tem o seu trono nos céus.
Seus olhos observam; seus olhos examinam os filhos dos homens. O SENHOR prova o
justo, mas o ímpio e a quem ama a
injustiça, a sua alma odeia. Sobre os ímpios ele fará chover brasas ardentes e
enxofre incandescente; vento ressecante é o que terão. Pois o SENHOR é
justo, e ama a justiça; os retos verão a sua face”.
Percebemos
que a alma de Deus odeia quem ama a injustiça, e sobre tais pessoas ele
derramará brasas ardentes e enxofre incandescente como castigo eterno. Repare
também aqui que Deus odeia o ímpio, mas ama o justo!
Romanos
9.10-16: “E esse não foi o único caso; também os filhos de Rebeca tiveram um
mesmo pai, nosso pai Isaque. Todavia,
antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má — a fim de
que o propósito de Deus conforme a eleição permanecesse, não por obras, mas por
aquele que chama — foi dito a ela: ‘O mais velho servirá ao mais novo’. Como
está escrito: ‘Amei Jacó, mas rejeitei [gr., odiei] Esaú’. E então, que diremos?
Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois ele diz a Moisés: ‘Terei misericórdia de quem eu quiser ter
misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão’. Portanto, isso
não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus”.
Antes de
Jacó e Esaú terem nascido e antes de eles terem feito o bem ou o mal, Deus já
fizera a escolha de quem amaria e de quem odiaria. Isso aconteceu
exclusivamente para que o bom propósito de Deus e seus atributos pudessem ser
conhecidos (Rm 9.17-23). O amor e o ódio de Deus não dependem da “vontade
humana”, mas apenas de Deus. Por ser o supremo governante e criador do
universo, é natural que Deus tenha o direito de escolher a quem amar e a quem odiar.
Portanto,
o adágio “Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”, segundo a Bíblia, é falso. A
afirmação encontrada na Escritura a respeito do ódio de Deus pode causar duas
reações em quem a ouvir. Ela é capaz de endurecer o coração de modo a quem alguém
diga: “Como o Deus descrito pela Bíblia pode ser justificado ao agir dessa
forma?”. Essa pessoa também é capaz de pensar:
“Não
posso servir a um Deus que não ama todas as pessoas”, ou talvez: “Nunca fiz
nada de mal para merecer o ódio de Deus”. Além disso, outras pessoas afirmarão
sua incapacidade de julgar a Deus dessa forma (Rm 9.20). Eles percebem que a
Palavra de Deus é a descrição verdadeira de Deus, e que esses atributos de Deus
devem ser aceitos. Na verdade, eles não devem ser só aceitos, mas devem ser
motivo de júbilo; porque este é Deus, e precisamos nos regozijar na verdade de
sua revelação!
As
passagens acima fazem distinção entre o ódio e o amor. Deus odeia quem pratica
o mal, mas ama o salmista. Deus odeia o ímpio, mas ama o justo. Deus odeia
Esaú, mas ama Jacó. Qual é a diferença? Como um pode ser ímpio e o outro justo?
A diferença é Jesus Cristo e sua obra realizada na cruz. Por causa do sangue de
Cristo vertido, os eleitos de Deus são declarados justos (Rm 5.9). A diferença
não é questão de quem peca e de quem não o faz, por que não há diferença; todos
pecaram e estão destituídos da graça de Deus (Rm 3.22,23). A diferença é Jesus
Cristo, e apenas ele!
Deus não
ama e odeia as pessoas. Elas são amadas ou odiadas — esses são pensamentos opostos
na Escritura. Quem foi comprado por Jesus Cristo na cruz jamais foi odiado por
Deus. Vimos que a Escritura afirma o ódio de Deus pelo pecador, mas aquele por
quem Cristo morreu nunca é considerado pecador aos olhos de Deus. Ele foi
eleito e amado em Cristo desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4,5). Quando
Deus olha para seus filhos (aqueles a quem ele escolheu amar), ele não os odeia
porque sua inocência foi assegurada pelo Senhor Jesus Cristo.
Efésios
2.4, 5: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos
amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões —
pela graça vocês são salvos”.
Repare no
que Paulo diz: Deus ama os eleitos mesmo quando estavam mortos em
transgressões. (Em outras palavras, quando eles chafurdavam no pecado, antes de
serem regenerados.) É responsabilidade de toda pessoa pesquisar as Escrituras e
descobrir se ela é um filho amado de Deus, ou se ela se encontra entre aqueles
que Deus escolheu odiar. Um se regozijará com a revelação de Deus, o outro
endurecerá o coração contra a verdade.
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