Dr. Gordon Haddon Clark
Tradução: Felipe
Sabino de Araújo Neto
“Felicidade” (eudamonia, de onde
derivamos eudemonismo) é o termo que Aristóteles usou para designar o
objetivo da vida. Ela é um fim em si mesmo, nunca um meio para algo mais:
“Honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras formas de excelências,
embora as escolhamos por si mesmas... escolhemo-las por causa da felicidade...
Mas ninguém escolhe a felicidade, visando as várias formas de honrarias ou
prazer, nem como um meio para algo além dela mesma” (Nicomachean Ethics, I,
vii, 1097b1-6).
Embora
o termo “felicidade” pareça designar um fim único, ele na verdade consiste de
várias partes, todas necessárias. Dois fatores a serem escolhidos
voluntariamente são aquilo que é virtuoso e a atividade racional. As virtudes
são a coragem, temperança, liberalidade, e assim por diante. A atividade
racional é uma questão de estudar física, metafísica, etc. A razão é que
essas são funções do homem como homem. O propósito de uma flauta é
produzir música; o propósito de um peixe é produzir peixe; o propósito de
um sapateiro é produzir sapatos; mas o propósito do homem como homem é viver
virtuosa e racionalmente.
Existem
também alguns fatores involuntários na felicidade. Uma vida de tragédia ou
desgraça (mesmo desmerecida) não é uma vida feliz. Nem pode um homem ser
chamado de feliz se é o seu filho quem sofre a tragédia. Portanto, é impossível
saber se um homem é feliz, até que ele tenha morrido.
A
ética de Agostinho também era o eudemonismo. A vida boa é uma vida de
felicidade (beatitudo, beatitas; ambos termos cunhados por Cícero). Todos os
homens desejam a felicidade (De Trinitate, X, v, 7). “Ninguém vive como
desejaria, a menos que seja feliz” (De Civitas Dei, XIV, 25). Ora, Agostinho
não menosprezaria virtudes tais como coragem e temperança; nem desdenharia do
pensamento racional. Na verdade, ninguém pode ser feliz sem o conhecimento da
verdade. Nisso há uma similaridade com Aristóteles. Mas Agostinho substitui o
secularismo de Aristóteles pelo conteúdo cristão. Deus é a verdade e
conhecer a Deus é a verdadeira sabedoria. Portanto, a felicidade que Agostinho
recomenda torna-se bem-aventurança ou beatitude.
De
maneira mais explícita: sabedoria não é o conhecimento de algum deus pagão,
nem mesmo do, digamos, primeiro princípio de Spinoza. Ter sabedoria é ter
Cristo. Cristo é a verdade; Cristo é a sabedoria de Deus.
Uma
razão para fazer dessa verdade o objetivo dos nossos esforços é que se
amamos o que podemos perder, não podemos ser felizes. Mas Deus, Cristo, e a
verdade são imutáveis, e se temos isso, nossa bem-aventurança é permanente.
O
eudemonismo, portanto, não pode ser confundido com o hedonismo, como é
algumas vezes ignorantemente feito; os dois formam um contraste.
Fonte:
Essays on Ethics and Politics, Gordon Clark, Trinity Foundation, p. 109-110 http://www.monergismo.net.br
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